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terça-feira, 12 de julho de 2016

DICAS LITERÁRIAS: FIDEL E A RELIGIÃO GANHA NOVA EDIÇÃO



       


   Fidel e a religião, livro contendo longa entrevista que fiz com o líder cubano, em 1985, acaba de ser reeditado no Brasil pela Fontanar, selo da Companhia das Letras.

       A obra vendeu 1,3 milhão de exemplares em Cuba, mereceu traduções para 20 idiomas e edições em 32 países. Foi o presente de Fidel ao papa Francisco em visita a Havana, em setembro de 2015. Seu impacto favoreceu a liberdade religiosa em países socialistas. Foi a primeira vez que um chefe de Estado comunista se manifestou positivamente sobre o fenômeno religioso. Isso no momento em que a Nicarágua sandinista havia incluído os cristãos no processo revolucionário que derrubou a ditadura da família Somoza, em 1979.

       Na União Soviética e nos países socialistas do Leste europeu, a falta de liberdade religiosa aprofundou as rachaduras na Cortina de Ferro e no Muro de Berlim, que desabaram em 1989. Quatro anos antes Fidel, na entrevista, alertou os dirigentes comunistas quanto ao erro de identificar capitalismo e cristianismo, considerar a religião mero “ópio do povo” e restringir a manifestação da fé aos templos e à privacidade doméstica.

       Tais preconceitos contribuíram para acentuar as contradições entre sociedade política e sociedade civil. Enquanto esta abraçava a religião como esfera emblemática de liberdade de consciência, nas escolas era ensinado o “ateísmo científico” e pessoas dotadas de fé estavam proibidas de se filiar ao Partido Comunista, ocupar cargos administrativos e trabalhar como professor, filósofo, psicólogo, agente de segurança pública etc.

       Devido à repercussão do livro, fui convidado a assessorar governos socialistas na aproximação Estado e Igrejas. Estive na China, Rússia, Letônia, Lituânia, Tchecoslováquia, Polônia e Alemanha Oriental. Tarde demais. Como a água que se avoluma no tsunami, os anseios de liberdade da sociedade civil fizeram naufragar a sociedade política. Descrevo esses anos de delicada costura entre Estado e Igreja em Paraíso perdido – viagens ao mundo socialista (Rocco).

       A nova edição de Fidel e a religião resitua o leitor graças ao prólogo atualizado. Foi enriquecida também com notas que contextualizam as informações contidas no texto, já que desde 1989 desapareceu a bipolaridade entre capitalismo e comunismo, enquanto a Guerra Fria se reduz, hoje, às tensões econômicas e estratégicas nas áreas de influência dos EUA, da China e da Rússia.

       O que torna Fidel e a religião uma obra inaudita é, como me disse um bispo, “tirar o medo dos cristãos e o preconceito dos comunistas.” Mas não somente por isso. Também por resgatar a utopia em um mundo que dá sinais de trocar a liberdade por segurança, e enfatizar o caráter libertador da fé cristã quando tantos proclamam a “morte de Deus” ou insistem, no bazar das crendices, em torná-la de fato “ópio do povo” e cornucópia da fortuna de supostos pastores.

Fidel e a Religião foi lançado no Rio de Janeiro, nessa segunda-feira, 11 de julho. O lançamento em São Paulo acontecerá na próxima segunda-feira, 18 de julho, no Esch Café, Alameda Lorena 1899.


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