por Rossana Menezes
Tava
querendo ver se conseguia revezar aqui e publicar uma semana um filme mais
antigo e na outra um que está em cartaz no cinema. Mas infelizmente não tive
tempo de ir ao cinema essas duas últimas semanas e na zapeada dominical pelo
Netflix, me deparo com algumas pérolas. Ele tem uma parte onde te indica filmes
ou séries baseados nas últimas coisas que você assistiu. Como o último filme
que eu vi no Netflix foi O processo, ele estava me indicando alguns clássicos.
Passei por alguns de Hitchcock que me interessaram, mas quando eu menos
esperava ele me indica FAUSTO e eu não precisei pensar duas vezes.
O
filme alemão tem direção de F.W Murnau (Nosferatu) roteiro de Gerhart
Hauptman e, obviamente, é baseado na mais famosa versão da lenda, o poema
escrito por Goethe, um dos meus livros clássicos favoritos, por sinal.
O
filme foi um pouco difícil, confesso. Não por ser preto e branco, não por ser
mudo, mas simplesmente por ser legendado em inglês arcaico. Podem rir da minha
cara, mas eu estou me tornando uma pessoa preguiçosa e destreinada. Depois de
vários anos sem ler legenda (já não lia mesmo antes de morar no Canadá), uma
coisa simples pode se tornar uma tarefa complicada. Estou acostumada a ouvir e
não mais a ler e acabo perdendo algo que passou na cena quando tenho que ver um
filme em uma língua que não entendo. Pra piorar a minha situação, as telas
escritas do filme são, obviamente em alemão e a legenda tem um inglês super
rebuscado e antigo com o qual eu não estou acostumada. Por sorte, já li o livro
e conheço bem a história, então o dano não foi muito grande. Passado esse
pequeno detalhe, o filme é fantástico e honra o livro do começo ao fim.
Fausto
conta uma versão fantástica de um personagem real, mas que pouco se sabe sobre
sua verdadeira história. Muito foi escrito sobre Johann Georg Faust, mágico,
alquimista e astrólogo, mas a mais famosa versão é a do escritor e poeta alemão
Goethe.
Falando
um pouco da história, pra quem nunca leu o livro, Fausto, em um momento de
ânsia, desespero, tédio e frustração em relação ao conhecimento de sua época,
evoca alguns espíritos e depois o demônio Mephisto, com quem faz um pacto: Sua
alma em troca de conhecimento. Ele não envelheceria pelos próximos 24 anos,
enquanto poderia estudar e ter o demônio ao seu serviço. Nesse tempo ele
conhece a bela Margarida, por quem se apaixona e através de quem ele tenta
conseguir salvar a sua alma, mas sem sucesso.
Depois
de ter filmado Nosferatu, Murnau se consagrou e a ele foi oferecida a
oportunidade de filmar o que ele quisesse. E com essa oferta veio um orçamento
bem gordo. O resultado foi estonteante. O filme é visualmente encantador. Uma
obra prima do expressionismo alemão.
A
história no filme se dá um pouco diferente, já que vender sua alma não é uma
iniciativa de Fausto e sim o resultado de uma aposta entre Deus e Satanás. Se
Satã conseguisse corromper a alma de Fausto, a humanidade estaria sob o
controle dele. Caso contrário, Deus dominaria o mundo. Aposta feita, Mephisto
começa a espalhar a praga na terra e as pessoas começam a morrer. Fausto, desesperado
decide evocar os espíritos para obter o conhecimento para ajudar as pessoas.
Motivo bem mais nobre do que a versão do livro.
O
imaginário do filme é fenomenal. A cena de Mephisto tomando conta da cidade é
fantástica. A atuação é bem teatral, como de costume na época e mesmo sendo um
filme mudo, o clima de horror e desespero, ainda que cercado de poesia toma
conta durante as quase duas horas de duração da obra.
Não
vou dizer que é um filme que indico para todos. Mas se você não tem problema
com filmes antigos ou gosta do expressionismo alemão, vá em frente. Esse é uma
obra prima.
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