Cadê aquela mobilização
popular que deixou governo e elite com a barba de molho? Agora, sim, seria o
momento, e não quando todo o Brasil fixava a atenção na Copa.
As manifestações são
positivas, traduzem a insatisfação popular e enriquecem a nossa democracia.
Porém, infelizmente são pouco propositivas. Talvez porque o neoliberalismo
esteja nos cegando diante de alternativas de futuro.
Movimentos sociais agendaram,
para a Semana da Pátria (1 a 7 de setembro), o Plebiscito pela Reforma
Política. Cadê a mobilização de quem não está satisfeito com a política tal e
qual se faz hoje no Brasil?
Dizem os alemães que política
é como salsicha, melhor não saber como se faz. O pior, entretanto, é engoli-la
a seco, sem se perguntar que efeitos negativos provoca em nosso organismo
democrático.
O Plebiscito não resultará em
imediata reforma política. Bem sucedido, obrigará governo e Congresso a
convocarem a Assembleia Constituinte Soberana e Exclusiva. Soberana porque terá
autoridade para modificar a atual Constituição no que diz respeito à nossa
institucionalidade política.
E por que exclusiva? Porque
não fará uma nova Constituição, como em 1988, nem será integrada pelos atuais
deputados federais e senadores. Pessoas serão eleitas para cuidar
exclusivamente da reforma política.
Em 1988, os parlamentares
atuavam pela manhã como Congresso Nacional e, à tarde, como Assembleia
Constituinte. Mas se a gente não se mexer, nada vai acontecer.
Outro recurso imediato para
aprimorar a democracia brasileira e torná-la mais participativa são as eleições
de 5 de outubro. Você já sabe em quem votar para presidente, governador,
senador (1 por estado, desta vez), deputados federal e estadual? E faz campanhas
para seus candidatos? Conhece bem o passado deles e se sente em condições de
avaliar a seriedade de suas promessas? São compromissos ou apenas demagogia?
Há muitos critérios para se
escolher um candidato, desde o bom domínio das palavras até sua aparência
física. Do jeito que é feita a propaganda eleitoral, muitos eleitores engolem
gato por lebre. São influenciados pelos marqueteiros dos salões de beleza
eleitoral.
O meu critério é simples: voto
à luz dos valores evangélicos. Quando recordo que Jesus disse que estão com ele
aqueles capazes de saciar quem tem fome e sede, cuidar da saúde alheia, acolher
o imigrante e assegurar vida digna a quem sequer tem roupa para vestir (Mateus
25, 31-44), isso orienta o meu voto.
Voto pelos direitos dos mais
pobres, marginalizados e excluídos. Porque não acredito em democracia política
sem democracia econômica. E jamais dou meu voto a quem considera natural a
desigualdade social, e cujo passado não comprova nenhum vínculo com os
movimentos populares. Não quero um Brasil melhor para mim. Quero um Brasil
melhor para todos.
Não vote com o fígado. Vote
com a razão. E, sobretudo, não vote nulo ou branco. Isso é omitir-se.
Participe, ainda que se sinta limitado a escolher apenas o possível, não o
preferível.
Frei Betto é escritor, autor de
“A mosca azul – reflexão sobre o poder” (Rocco), entre outros livros.
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Frei Betto e poderá receber todos os textos escritos por ele - em português,
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