por Rejane Menezes
Editora: PLANETA DO
BRASIL
Assunto: COMUNICAÇÃO -
JORNALISMO
Ano: 2005
Há alguns anos, não lembro
quantos, dei de presente de aniversário a uma amiga, Goretti, o livro MINHA
HISTÓRIA DOS OUTROS, de Zuenir Ventura. Esperei dar o tempo de ela ler e, na
cara de pau, pedi o livro emprestado. Confesso que talvez tenha dado o livro
com segundas intenções mesmo, querendo eu mesma ler.
Não me arrependi, nem de dar o
presente nem de ler o livro, pois, ao terminar a sua leitura, cheguei a
conclusão de que tinha acertado no presente. Lamentei quando chegou ao fim.
Queria que tivesse mais páginas, mais histórias.
Zuenir, jornalista e escritor, 82
de idade, é um daqueles artistas da arte de escrever. Sabe misturar as letras
com maestria e as distribui no papel de uma maneira tão harmoniosa que fica
difícil parar de ler. Seu jeito de contar os momentos que viveu faz com que ele
se tenha tornado parte das histórias, ainda que não fossem suas.
No livro ele fala sobre
acontecimentos históricos como a queda muro de Berlim, em 1989 ou a descoberta,
com Yuri Gagarin, de que o homem podia fugir à gravidade, ir ao cosmo, olhar a
terra de uma perspectiva inédita e dizer: 'A Terra é azul'. E voltar. Isso em
1961, ano sobre o qual ele nos fala da visita que mobilizou Paris do presidente
norte-americano John Kennedy a De Gaulle, dias antes de se reunir com o
dirigente soviético Nikita Kruschev em Viena para o chamado 'encontro do século'. E Zuenir estava lá, em Paris,
cobrindo o evento.
E, ainda em Paris, se depara
com uma crise no Brasil, da qual só tomou conhecimento três dias depois: a
renúncia de Jânio Quadros, no dia 25 de agosto. João Goulart, então
vice-presidente, também tomou conhecimento da notícia ao chegar a Paris, vindo
da China. E, Zuenir acompanhou de perto as suas atividades, como corresponde do
jornal A Tribuna. Inclusive, chegando a servir de intérprete. Ele conta que essa
história de intérprete foi meio folclórica. Surgiu num dia em que o vice-presidente,
que não falava francês, se viu diante de um pelotão de jornalistas que não
falavam português. A exceção era ele, que podia atender às duas partes.
Contemplado com a tarefa improvisada, se sentiu de repente com o poder de mudar
o destino do país. Uma palavra mal traduzida, uma frase inventada, qualquer
coisa que pusesse na boca do vice-presidente, e estaria armada a confusão.
Zuenir dá um passeio sobre a
história recente do Brasil, escrevendo de maneira simples, agradável e
espontânea os fatos que fizeram parte da nossa realidade, da realidade de nosso
País.
Feito de episódios que viveu e
de personagens que conheceu ao longo de quase cinquenta anos de jornalismo, em
'Minhas histórias dos outros' Zuenir Ventura faz um acerto de contas com o seu
passado, ou com sua memória. Entre lembranças pessoais e coletivas, estão as
principais mudanças comportamentais, políticas e sociais dos anos 50 até hoje.
Amigo de Glauber Rocha, Zuenir desfaz as dúvidas sobre a verdadeira causa da
morte do pai do Cinema Novo. Mais adiante, num mea-culpa, questiona por que os
jornalistas - ele, inclusive - resolveram não publicar a versão integral do
suicídio de Pedro Nava. Como se abrisse seu diário, fala sobre seu "filho
adotivo" Genésio Ferreira da Silva, testemunha do assassinato do líder
seringueiro Chico Mendes. Há também histórias alegres, como a da foto acidental
que tirou da calcinha branca de Jacqueline Kennedy.
Minhas
Histórias dos Outros” é uma investida literária de Zuenir Ventura na tentativa
de recordar e narrar fatos testemunhados por ele e vividos por terceiros. No
livro, o autor descreve como iniciou no jornalismo, no extinto Tribuna da
Imprensa de Carlos Lacerda.
Considerando um dos maiores jornalistas e
escritores do Brasil, é reconhecido por grandes obras como “Inveja’ e “1968 - O
Ano que Não Terminou”. Em 2012 completou 81 anos de idade, recusando se
aposentar integralmente.
Além de suas próprias memórias, o livro “Minhas
Histórias dos Outros” também se baseia em descrições relatadas por outras
pessoas e por registros jornalísticos, servindo de acerto de contas com o seu
próprio passado, do registro da história do Brasil e de fatos relevantes dos
anos 50 e 60 que demonstram claramente as mudanças de comportamento na
sociedade da época.
“O mal da
favela é a inconsciência política e social. As pessoas não sabem o seu valor
como ser humano". Zuenir Ventura
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