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terça-feira, 26 de novembro de 2013

DICAS LITERÁRIAS: MINHAS HISTÓRIAS DOS OUTROS




 por Rejane Menezes
 Editora: PLANETA DO BRASIL
 Ano: 2005


Há alguns anos, não lembro quantos, dei de presente de aniversário a uma amiga, Goretti, o livro MINHA HISTÓRIA DOS OUTROS, de Zuenir Ventura. Esperei dar o tempo de ela ler e, na cara de pau, pedi o livro emprestado. Confesso que talvez tenha dado o livro com segundas intenções mesmo, querendo eu mesma ler.

Não me arrependi, nem de dar o presente nem de ler o livro, pois, ao terminar a sua leitura, cheguei a conclusão de que tinha acertado no presente. Lamentei quando chegou ao fim. Queria que tivesse mais páginas, mais histórias.

Zuenir, jornalista e escritor, 82 de idade, é um daqueles artistas da arte de escrever. Sabe misturar as letras com maestria e as distribui no papel de uma maneira tão harmoniosa que fica difícil parar de ler. Seu jeito de contar os momentos que viveu faz com que ele se tenha tornado parte das histórias, ainda que não fossem suas.

No livro ele fala sobre acontecimentos históricos como a queda muro de Berlim, em 1989 ou a descoberta, com Yuri Gagarin, de que o homem podia fugir à gravidade, ir ao cosmo, olhar a terra de uma perspectiva inédita e dizer: 'A Terra é azul'. E voltar. Isso em 1961, ano sobre o qual ele nos fala da visita que mobilizou Paris do presidente norte-americano John Kennedy a De Gaulle, dias antes de se reunir com o dirigente soviético Nikita Kruschev em Viena para o chamado 'encontro do século'. E Zuenir estava lá, em Paris, cobrindo o evento.

E, ainda em Paris, se depara com uma crise no Brasil, da qual só tomou conhecimento três dias depois: a renúncia de Jânio Quadros, no dia 25 de agosto. João Goulart, então vice-presidente, também tomou conhecimento da notícia ao chegar a Paris, vindo da China. E, Zuenir acompanhou de perto as suas atividades, como corresponde do jornal A Tribuna. Inclusive, chegando a servir de intérprete. Ele conta que essa história de intérprete foi meio folclórica. Surgiu num dia em que o vice-presidente, que não falava francês, se viu diante de um pelotão de jornalistas que não falavam português. A exceção era ele, que podia atender às duas partes. Contemplado com a tarefa improvisada, se sentiu de repente com o poder de mudar o destino do país. Uma palavra mal traduzida, uma frase inventada, qualquer coisa que pusesse na boca do vice-presidente, e estaria armada a confusão.
Zuenir dá um passeio sobre a história recente do Brasil, escrevendo de maneira simples, agradável e espontânea os fatos que fizeram parte da nossa realidade, da realidade de nosso País.

Feito de episódios que viveu e de personagens que conheceu ao longo de quase cinquenta anos de jornalismo, em 'Minhas histórias dos outros' Zuenir Ventura faz um acerto de contas com o seu passado, ou com sua memória. Entre lembranças pessoais e coletivas, estão as principais mudanças comportamentais, políticas e sociais dos anos 50 até hoje. Amigo de Glauber Rocha, Zuenir desfaz as dúvidas sobre a verdadeira causa da morte do pai do Cinema Novo. Mais adiante, num mea-culpa, questiona por que os jornalistas - ele, inclusive - resolveram não publicar a versão integral do suicídio de Pedro Nava. Como se abrisse seu diário, fala sobre seu "filho adotivo" Genésio Ferreira da Silva, testemunha do assassinato do líder seringueiro Chico Mendes. Há também histórias alegres, como a da foto acidental que tirou da calcinha branca de Jacqueline Kennedy.

Minhas Histórias dos Outros” é uma investida literária de Zuenir Ventura na tentativa de recordar e narrar fatos testemunhados por ele e vividos por terceiros. No livro, o autor descreve  como iniciou no jornalismo, no extinto Tribuna da Imprensa de Carlos Lacerda.

Considerando um dos maiores jornalistas e escritores do Brasil, é reconhecido por grandes obras como “Inveja’ e “1968 - O Ano que Não Terminou”.  Em 2012 completou 81 anos de idade, recusando se aposentar integralmente.

Além de suas próprias memórias, o livro “Minhas Histórias dos Outros” também se baseia em descrições relatadas por outras pessoas e por registros jornalísticos, servindo de acerto de contas com o seu próprio passado, do registro da história do Brasil e de fatos relevantes dos anos 50 e 60 que demonstram claramente as mudanças de comportamento na sociedade da época.

“O mal da favela é a inconsciência política e social. As pessoas não sabem o seu valor como ser humano". Zuenir Ventura

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